terça-feira, 29 de janeiro de 2013

HAICAI

O Haicai é a forma de poesia mais tradicional da cultura japonesa.
Deve conter um" kigo",isto é,uma palavra que se refira à natureza,ou estação do ano.
Contém três versos ou linhas com cinco,sete,cinco sílabas métricas.
É um momento de visualização pois cria uma imagem fixa ,uma reflexão - cria uma expectativa e um desconcerto- causa surpresa.

Véus transparentes
Desnudam formas sutis
É lua cheia...


Melancolia
Saudade de não sei quê
Onda vai e vem...


"Um gosto de amora
comida com sol.A vida
Chama-se Agora."

Uma folha morta
Um galho no céu grisalho
Fecho minha porta.

A ocidentalização , ou a modernidade  permite uma leve  transgressão na contagem das sílabas.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

LUZ,CÂMARA,AÇÃO




Aí vem um clip
de uma nova canção!
....................................

Quem vai ler
meu verso , coitado...
derramado no branco da folha
sem som, sem imagem, sem brilho
ou make up...

Quem mais
conversa com a lua
a branca noiva do sol?

Quem mais precisa sonhar
Dar asas à imaginação
Se basta ligar um botão
E explodem no meio da sala
Imagens, luzes e sons ...

Quem vai ler
 o meu verso, calado
sem áudio , câmera, ação
Preferir o silêncio da folha
ao clip de uma nova canção?

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

CAUSOS DA INFÂNCIA

A VIAGEM

 Foi pura adrenalina como se diz hoje, viajar de trem pela primeira vez!
Pra mim, trem era uma coisa qualquer que se perdia pela casa, ou na qual se esbarrava por não ter sido devidamente guardada. Os “trem” de cama que precisavam ser trocados, os “trem” que ficaram esquecidos no quintal. Lembro ainda da mãe perguntando à Lalinha: - onde você colocou os “trem” do tio Zé, criatura?”.
Foi, portanto, com o maior espanto que recebi a notícia de que iriamos viajar numa daquelas coisas que se chamava, em casa, de trem.
Pra mim, trem era tudo aquilo cujo nome fugia da memória da gente.
 Eu já vira uma figura de trem, mas os “trem” lá de casa eram mais concretos. Tudo era “trem”. Trem pra lá, trem pra cá. E geralmente, aqueles ”trens” viviam perdidos como que se escondendo das faxinas da Lalinha que se encarregava de ajudar a mãe.
Mas, não me importava em que trem sairia montada pra viajar pelo mundo afora. O importante é que ia viajar- palavra mágica esta – viajar, viagem!
Chegado o dia marcado para a aventura a ansiedade não me deixou dormir. Afinal estava avisada de que sairíamos ainda com a lua no céu gelado da serra pra pegar o trem lá pras bandas de serra abaixo. Até lá, eu caraminholava, com certeza iríamos montados num “trem” qualquer.
Visualizava-me, bem como ao pai e à mãe, voando naquela mala velha lá do sótão que estava sempre sendo chutada por alguém que prometia dar fim àquele “trem”. Será?
Ou quem sabe, empoleirados em cima de um tapete igual aquele tapete mágico do Alladin?
 Enfim, é chegada a hora de partir. A madrugada tornava tudo ainda mais misterioso. A cidade deserta. Na rua, nem cachorro aparecia pra enfrentar a geada caindo. Como me diziam, caindo lá de cima do pólo norte, onde morava o Papai –Noel.
 Metidos em mil agasalhos enfrentamos a geada que se condensava no para-brisa do carro de aluguel que o pai contratara para levar-nos serra abaixo.
Serra abaixo! Então iríamos rolando, rolando até cair dentro de outro “trem”.?
O carro velho do seu Mário não parecia nada com o que minhas fantasias criaram. Era apenas um carro. E uma vez dentro dele, sem maiores novidades, dormi o sono dos anjos travessos, no regaço da minha mãe. O que não me impediu de sonhar que era uma linda bola colorida rolando serra abaixo até entrar numa coisa que nem em sonhos eu saberia definir.
Havíamos chegado à cidade onde a gente ia ficar hospedado num hotel.
Puxa, que viagem!
Eu nunca havia estado num hotel. Quando as aulas retornassem iria ter o que contar...
Instalados afinal, descemos pro  jantar. Tudo muito legal. Algumas pessoas desconhecidas. Nenhuma criança. Que pena! Teria que fazer minhas explorações sozinha.
Na sala de estar havia uma cadeira de balanço e foi nela que encontrei uma forma de brincar. Percebi que a cadeira se movia pela sala se a balançasse com força. Que brincadeira genial. Passear de cadeira pelo salão do hotel!
 E foi assim que me distanciei um pouco da mãe e do pai que olhavam algumas revistas espalhadas por ali. Aquilo sim era um “trem”  de cadeira legal.Tinha os pés em arco o que a fazia deslizar pela sala .
Foi então que, de repente a luz apagou. Na escuridão total um grito vindo do andar de cima me fez  ficar arrepiada..
 As sombras desenhadas nas paredes tornaram tudo muito mais assustador.  Abandonei a brincadeira e a coragem. Tateando, buscava mãe e pai. Distraira-me passeando de cadeira. E agora, onde estariam?
Imaginação turbinada pelo medo me via perdida e sozinha num abismo sem fim.
Afinal, encontrei a mão cuidadosa da mãe e agarrei-me nela como um náufrago na tábua de salvação! A coragem confundiu-se com a escuridão.
Logo apareceram os donos do hotel com velas acesas e distribuíram algumas entre os hóspedes. Naquela época não havia lâmpadas de emergência numa cidadezinha feito aquela.
Do andar de cima novamente o grito congelou os movimentos de todos. Estariam matando alguém? Um fantasma teria aparecido?
Estórias escabrosas contadas ao pé do fogo arderam na minha memória acelerando-me o coração. O que estaria acontecendo?
Logo passos despencaram dos degraus e gritos de pega ladrão atingiram ouvidos mais alertas que o normal.
 Agarrada às saias da minha mãe senti as orelhas crescerem como as dos elefantes do livro que a professora mandara ler naquela semana. Que vontade de estar em casa, debaixo dos cobertores onde ninguém conseguiria me encontrar.
 Viajar não era tão fácil como pensara.
 Então da mesma forma como fugira, a luz voltou! Danada de luz travessa. Garanto que sabia o que ia acontecer, pensei!
Agora, passado o susto ela voltava toda amarela. Podia ficar lá na rua, agora a gente já vai dormir mesmo!
Fui acordada por um apito longo e muito alto que me deixou meio atordoada E a mãe sacudindo meu braço parecia muito excitada com a grande aventura que estava prestes a se iniciar.
Havia uma neblina úmida e muito fria na estação. Meus olhos cresceram de curiosidade. Afinal, a visão do trem. Lá estava ele.
 O trem de verdade! Era imenso e vermelho. Puxado por uma locomotiva a carvão. Respirava tenso soltando fumaça como a Lalinha quando saía de manhã pra comprar o pão nas manhãs geladas da serra...
Esfregando os olhos o espanto escapuliu e foi parar naquela coisa tão esperada. Então aquilo é que era o trem!
Entendi porque a mãe chamava a tudo de “trem” principalmente quando eu deixava brinquedos espalhados pela casa.
- “Delia! Vai guardar estes teus “trem” antes que derrubem a gente!
Era lindo! Igual ao desenho do livro que ganhara da tia Carola no aniversário. Até a fumaça que saía lá da frente, como se alguém estivesse fazendo o fogo pela manhã.
Aquilo devia estar sempre no caminho de alguém. Grande daquele jeito! Uma coisa sem fim!
Agarrada à mão do pai subi o primeiro degrau daquela coisa que respirava impaciente para sair.. Parecia um cavalo bufando de pressa.
Eu me sentia como se estivesse embarcando pra  lua, como os personagens de Monteiro Lobato na “Viagem ao Céu”!
Um novo e excitante apito!Muita gente se abraçando e correndo pra  viagem!
Dentro do trem, estudando o ambiente meus olhos corriam numa observação acelerada. É preciso estar atento pra ver como as coisas vão acontecer. Olhava tudo e todos com uma concentração total, paa crer que não estava sonhando novamente.
 Na verdade, fazendo planos pra depois do susto de estar afinal dentro de um trem!
De repente, um apito mais longo e como que gemendo, aquela coisa vermelha foi saindo do lugar com muita má vontade até que conformada iniciou uma marcha ritmada.
Acertadas as coisas, todos em seus lugares, inclusive o trem que ia sempre em frente cantando. Já era possível arriscar um passo fora do banco em direção ao corredor.
Agora sim, que fantástica viagem se poderia fazer!Ali se podia viajar caminhando e até correndo se quisesse.
Lá fora, a paisagem disputava corrida com a gente Mas, não tinha jeito. Ia ficando pra trás com tudo que estava dentro dela – casas, cachorros, árvores, pessoas, animais. Tudo passava, ia ficando longe. E eu dentro do trem, corria pra lá e pra cá porque não queria perder nada daquela fantástica viagem.
Minha primeira viagem! Minha primeira noite num hotel. E o trem, aquela coisa que corria sempre em frente, respirando cansado, bufando como o cavalo do tio Zé, deixando tudo pra trás.
 Comecei a aprender que viver e viajar era muito parecido. Ir sempre em frente e ver as coisas ficando pra trás!Até o espanto das coisas inesperadas.
Jamais esqueci minha primeira viagem de trem!

Fim

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

CASA ROSA -veja fotos e sinta comigo

 "Casa rouca submersa no matagal,teu galo ficou .E seu canto perdeu o timbre do sol,já não inaugura os dias.E se fez adequada aos estragos do reboco,à podridão das esquadrias- última secreção de paredes gemidas.Galo rouco,casa rouca"(Aníbal Machado)

Eu não sabia quanto era importante para mim a visão daquele mundo vivo e dançante que fazia da cidade barulhenta ,mecânica e rotineira um espaço menos duro,mais terno e aconchegante.
Eu o valorizava ,sim.Era um bálsamo para meu olhar!
O verde de variados tons dançando com o vento,era vida,promessa,lembranças,acalanto!
Hoje ,o espaço está morto,vazio,imóvel!Os pássaros partiram.Em dois dias homens e máquinas, sem piedade foram derrubando cada árvore,cada flor,cada ninho!
Nem eu sabia o quanto me importava.O som das inúmeras quedas,como corpos sendo derrubados, sem um lamento, calaram fundo em minha alma.Quantos anos foram deixados em paz,crescendo,multiplicando-se,oferecendo-se aos olhares e ao sol!
Tornavam minha rua mais próxima de sua história!Quem teria vivido ali?A casa rosa compunha com a natureza em volta um quadro encantador que falava de um tempo em que nas tardes de verão as crianças brincavam na rua.Um tempo em que as pessoas colocavam cadeiras nas calçadas e vizinhos se reuniam para comentar os acontecimentos da pacata capital do Estado.
Quando raramente passava um automóvel e não havia ambulâncias gritando a dor que carregam.O hospital era distante.Lá do outro lado,na colina diante da baía sul!
A casa rosa e eu nos conhecemos ,assim de perto,há muito pouco tempo.Mas,ela já faz parte do meu horizonte próximo para onde deslizava meu primeiro olhar todos os dias!
E a vida me saudava no canto dos pássaros,até  gralhas azuis que pareciam ter descido a serra para
saudar minhas nostalgias!
As palmeiras balançavam como que a embalar ninhos acolhidos em suas palmas.
Havia vida,movimento,melodia,natureza!
Hoje,com tristeza, todos os dias desvio o olhar daquele deserto onde só a casa rosa, agora desnuda aguarda seu destino!
Logo ,caminhões e máquinas voltarão!E por ela vão passar toneladas de cimento,e o ruído intenso de perfuradores farão tremer seu corpo.Os pássaros já se foram, felizmente não para muito longe, ainda!
O bosque perdeu seu prolongamento, mas persiste.Por quanto tempo?
Sobre a rua de outrora, uma via rumorosa, sacudida por mil motores, gemendo deixa fluir seres humanos apressados e desatentos para a beleza ao seu redor!
É a bucólica cidade substituída pelo progresso, pagando o preço por ser tão bela!
Mas, em minha retina saudosa ficará a mata derrubada  que vestida de festa emoldurava a linda Casa Rosa da Bocaiuva!